quinta-feira, 1 de julho de 2010

Neuroquímica

Dopamina, o neurotransmissor para prever o futuro


Além de proporcionar sensação de bem-estar, substância age em ares de recompensa no cérebro, aumentando expectativas positivas; pesquisadores buscam entender mecanismos do otimismo.

A dopamina é neurotransmissor frequentemente associado ao prazer. Saborear um alimento gostoso ou ter um orgasmo, por exemplo, faz com que neurônios de áreas específicas do cérebro sejam banhados por essa substância endógena. O resultado é a sensação de plenitude, que também faz com que muitas pessoas abusem de drogas psicoativas, em sua maioria ilícitas. Essa visão da dopamina como molécula do prazer, porém, é limitada. Pelo menos é o que garantem neurocientistas do University College de Londres, na Inglaterra: segundo eles, o neurotransmissor tem também a função de nos ajudar a prever o futuro.

Não se trata de adivinhação. No artigo publicado na revista Current Biology, os pesquisadores mostraram como a dopamina é importante na avaliação de expectativas. Os voluntários foram medicados com L-dopa, um precursor do neurotransmissor que aumenta a concentração de dopamina no cérebro. Logo em seguida, foram estimulados a pensar em 80 destinos turísticos, que incluíam Grécia e Tailândia, por exemplo. Um novo encontro foi marcado para o dia seguinte, quando L-dopa já teria exercido seus efeitos, para que eles dissessem para quais lugares preferiam viajar. Os resultados foram comparados aos de outro grupo submetido ao mesmo procedimento, mas os participantes haviam ingerido comprimidos que continham vitamina C, sem efeito algum no cérebro.

De volta ao laboratório, os coordenadores do estudo notaram que os resultados dos participantes dos dois grupos foram bem diferentes. Aqueles que tinham ingerido L-dopa tiveram uma percepção muito mais prazerosa dos destinos escolhidos. Segundo os autores, a explicação é simples: pense no futuro com mais dopamina no cérebro e ele parecerá muito mais divertido. Os pesquisadores ressaltam, porém, que no momento em que foram apresentados aos roteiros de férias, todos os voluntários tinham praticamente o mesmo “nível de felicidade”, segundo questionários de avaliação psicológica. O que mudou foi a forma como o cérebro processou essas informações, o que leva a crer que esse neurotransmissor maximiza as expectativas de recompensa.

A maneira como a dopamina exerce este efeito, no entanto, ainda é um mistério. O conhecimento dessa nova faceta da molécula ainda é incipiente. Estudos nessa área podem abrir novos caminhos para compreensão de como avaliamos o prazer e a dor e fazemos escolhas com base nessas estimativas. É um caminho que pode ajudar a entender melhor a neurobioliga do otimismo.

Da revista Mente&Cérebro n° 204, de janeiro/2010

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