quarta-feira, 2 de março de 2011

Escritório, doce escritório_2/5

Mais importante do que ter um local de trabalho bem decorado é fundamental ter um lugar com a “cara” da pessoa que o ocupa - Autonomia para organizar e personalizar seu próprio espaço torna profissionais mais felizes, saudáveis e produtivos

Revista Mente&Cérebro

edição 214 - Novembro 2010

por S. Alexander Haslam e Craig Knight

Escribas, burocratas e vigilantes

A história dos escritórios modernos remonta à Idade Média, quando cabia aos escribas a responsabilidade de manter os registros da Igreja e do governo. Esses hábeis artesãos trabalhavam nas residências dos reis e nobres, escrevendo e copiando documentos à mão. Para desempenhar a função era preciso ter uma formação que não estava ao alcance da maioria dos cidadãos. Geralmente tais escribas tinham permissão de organizar suas salas de trabalho, onde misturavam cadeiras, banquetas, livros e mesas de estudo.

No final da Revolução Industrial, o quadro começou a mudar. As classes profissionais proliferaram, assim como o número de pessoas com a tarefa de supervisionar o trabalho, o que levou à criação de locais padronizados, nos quais os gerentes tinham maior controle sobre sua mão de obra e conseguiam vigiar seus subalternos. No início do século 20, o engenheiro da Pensilvânia Frederick W. Taylor foi pioneiro do que se tornou o primeiro modelo de administração científica. Para ele, o cerne da tarefa dos executivos consistia em descobrir e implementar a melhor maneira de desempenhar alguma tarefa. Em 1911, escreveu
Princípios da administração científica, livro tão influente que as empresas que tinham melhorado a produtividade passaram a ser chamadas de “taylorizadas”. Taylor postulava que, exceto pelos materiais absolutamente necessários para executar a tarefa, tudo deveria ser eliminado do espaço de trabalho. Embora essa proposta se aplicasse a indústrias e linhas de montagem, empresários passaram a usá-la em escritórios e locais de trabalho criativo.

Os burocratas de todo o planeta estão familiarizados com espaços abertos estéreis, que acomodam as pessoas sem o mínimo de privacidade e podem ser rapidamente modificados conforme as contratações, demissões ou variações de tarefas. Algumas organizações optam por não oferecer lugar fixo. Nesses ambientes, qualquer forma de acúmulo de material é vista como bagunça e impedimento à produtividade.

O sistema aberto, que permite que os supervisores monitorem sutilmente seus subordinados, se baseia no conceito Panaopticon, desenvolvido em 1785 pelo filósofo Jeremy Bentham. Tratava-se de uma prisão circular com uma torre central da qual os guardas vigiavam os reclusos sem que estes os vissem. Era uma forma eficiente de controle, no qual um pequeno número de carcereiros poderia manter todos os prisioneiros sob guarda; os reclusos nunca conseguiriam saber quando estavam sendo observados.

S. Alexander Haslam e Craig Knight. Haslam é professor de psicologia social da Universidade de Exeter, na Inglaterra. Knight é pesquisador, pós-doutorando em psicologia e diretor do Center for Pychological Research into Identity and Space Management, em Exeter.

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