sexta-feira, 15 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_6/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br


A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Em três dimensões

Se as meninas se saem melhor nas habilidades verbais, os meninos se destacam no domínio espacial – e na capacidade de visualizar e manipular objetos e trajetórias no tempo e no espaço tridimensional. As diferenças sexuais nas facilidades espaciais estão entre as maiores discrepâncias cognitivas. Em média, um homem é capaz de realizar rotações mentais (isto é, imaginar como seria o aspecto de um objeto complexo depois de girado) melhor do que 80% das mulheres.

Em 2008, dois grupos de pesquisa registraram uma diferença sexual na rotação mental em bebês a partir dos 3 meses de idade. Há ainda outros dados, indicando que a habilidade é influenciada pela testosterona intrauterina. Contudo, a dimensão real do desnível é muito menor nas crianças que nos adultos: aos 4 anos, os garotos superam cerca de 60% das meninas. Parece, portanto, provável que, neles, a melhora da habilidade se deva à ampla gama de interesses visuoespaciais – mira, construção, arremesso e orientação, usados num sem-número de jogos de direção e tiro – que os rapazes exploram muito mais. A ideia é confirmada por um estudo da neurobióloga Karin Kucian e de seus colegas do Hospital Infantil Universitário de Zurique. Em 2007, eles observaram que, em exames de ressonância magnética, o cérebro de meninos e o de meninas exibiam padrões similares de atividade neural na execução de uma tarefa de rotação mental que, como revelou um estudo desenvolvido pelos mesmos pesquisadores em 2005, desperta reações diferentes nos cérebros adultos masculino e feminino. Parece que o cérebro de meninos e o de meninas divergem quanto ao processamento espacial à medida que as crianças crescem e praticam diferentes habilidades.

As habilidades espaciais são importantes para o sucesso em várias áreas da ciência e da matemática avançada, incluindo o cálculo, a trigonometria, a física e a engenharia. As pesquisas da psicóloga educacional Beth Casey, do Boston College, mostram que o desnível das habilidades espaciais entre meninos e meninas é, em grande parte, responsável pela consistente vantagem masculina no desempenho matemático avaliado nos exames de admissão ao ensino superior e um evidente obstáculo para as moças que querem fazer engenharia ou outros cursos da área das ciências exatas.

Mesmo sendo tão importantes, as habilidades espaciais não são levadas em conta nos currículos escolares. Porém, muitos estudos já mostraram que, com treino, é possível aperfeiçoa-las até mesmo jogando videogame! Se os meninos já praticam tais habilidades em suas atividades extracurriculares, as meninas pode se beneficiar de uma maior exposição a quebra-cabeças tridimensionais, jogos de tiro e direção em ritmo acelerado e esportes como beisebol, softbol e tênis.

Meninos e meninas são diferentes, mas a maioria das diferenças sexuais psicológicas não é especialmente significativa. Por exemplo, a disparidade nas habilidades verbais, no desempenho matemático, na empatia e até mesmo na maior parte dos tipos de violência é, em geral, muito menor que o desnível na altura dos adultos: um homem de altura mediana, com cerca de 1,70 m, é mais alto do que mais de 90% das mulheres. Quando se trata de habilidades mentais, pessoas dos dois gêneros se igualam muito mais do que se afastam.

Além disso, poucas dessas desigualdades são tão imutáveis ou estruturais quanto fazem crê teses populares surgidas nos últimos tempos. Para a maioria das diferenças, a primeira centelha é produzida por genes e hormônios, mas a chama é alimentada pelas culturas essencialmente distintas em que as crianças são criadas. A compreensão de como surgem as distinções entre os sexos pode diminuir a ameaça dos estereótipos e dar aos adultos idéias para ajudar a reduzir as discrepâncias mais preocupantes e permitir que, independentemente do gênero, as crianças desenvolvam seus diversos talentos.


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