quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ele disse, ela disse_5/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor


Jeito de irmã mais velha: "Se ela viver até 130,

vou ter de chegar aos 132 para poder tomar conta dela",

escreveu Sadie Delany (a esquerda), aos 103 anos, a

respeito da irmã caçula, Bessie, de 101.

Jogo Verbal

De qualquer forma, um fato prevalece: sempre estamos engajados em negociações sobre a conexão e o poder relativo. Eva e Kelly serviram a dois propósitos ao incluírem Tulla – e a mantiveram longe da brincadeira. De modo semelhante, os meninos que competiam verbalmente sobre a altura em que conseguiam rebater a bola também criaram uma conexão ao concordar com o tipo de jogo verbal a ser usado. Para entender os padrões do gênero, em vez de perguntar: “Esse tipo de fala serve à hierarquia ou à conexão?” parece mais indicado questionar: “Como esta forma de falar reflete o encontro entre conexão e hierarquia?”. E não há outro lugar onde essa interação possa ser mais bem explorada que no contexto que é ao mesmo tempo universal e fundamental: a família.

A família surge com hierarquia e conexão inerentes. A diferença de lugar e papéis entre os pais e os filhos é evidente – mas o mesmo acontece em relação aos irmãos. Embora usemos o termo “ligações fraternas” para descrever amizades íntimas e igualitárias, as verdadeiras relações entre os irmãos não são marcadas por conflitos, competições e diferenças, em grande parte ligados à ordem de nascimento. Em Having our say, livro de memórias das irmãos Delany, um sucesso de vendas nos Estados Unidos, Bessie Delany escreve: “Sadie, às vezes, não me aprova. Ela olha para mim com aquele jeito de irmã mais velha”. Quando disse isso, Bessie tinha 101 anos e Sadie, 103. Em outra parte do texto, Sadie declara: “Se ela viver até 130, vou ter de viver até 132 para poder tomar conta dela”. Curioso que o relacionamento tenha sido moldado mais em termos dos dois anos que as separavam que pelo século que elas já tinham vivido.

Os comentários dessas centenárias refletem a dinâmica que já ouvi das mais de 100 mulheres que entrevistei a respeito de irmãs, para o meu livro You are always mom’s favorite: sisters in conversation througbout their lives, além de comentários que ouvi sobre os irmãos; irmãs mais velhas geralmente eram vistas como protetoras, mas também críticas. Afinal, essas qualidades revelam os dois lados da mesma moeda. “Crítica” significa que uma pessoa percebe como os outros podem melhorar a si e a sua vida – e menciona isso. E isso não é novidade: todos temos opiniões sobre como nossos amigos, parentes e até estranhos poderiam fazer as coisas de um jeito melhor. Mas em geral não dizemos nada do que pensamos – a menos que nos sintamos responsáveis por eles. Os pais muitas vezes são críticos com as crianças porque sentem que é direito deles, ou até obrigação, orienta-las para que se encaminhem da melhor forma possível, o que significa dizer a elas como podem melhorar. Essas ofertas de conselho, no entanto, por mais que sejam bem-intencionadas (em outras palavras, concentradas na conexão), muitas vezes são ouvidas como “alfinetadas”. A pessoa que aconselha é interpretada como invasiva, como se estivesse se colocando em um lugar de superioridade, com a prerrogativa de exercer o direito de dizer ao outro o que ele deve fazer.

Não raro, irmãos mais velhas falam com caçulas de forma autoritária e direta – discurso mais associado com os meninos e os homens. Uma mulher me disse que quando era pequena ela e a irmã primogênita brincavam de um jogo que chamavam de “vassoura”. A mais jovem era vassoura. A irmã e agarrava pelos pés e a arrastava pela casa, usando seus longos cabelos para varrer a casa. Várias outras mulheres relembraram das irmãs mais velhas organizando e dirigindo pecinhas de teatro improvisadas. A distribuição de papéis seguia o modelo : “Eu sou a princesa, você é o sapo”. Na minha própria família, meu pai me ouviu pedindo à minha irmã, quando eu tinha 4 e ela uns 6 anos: “Mimi, posso brincar no seu quintal?”. Fica óbvio que eu não questionava a autoridade que a minha irmã mais velha impunha nas nossas negociações.

Ao mesmo tempo, a proximidade é o ponto alto dos relacionamentos entre irmãs – quase sempre independentemente da idade e dos contextos. Ao falar com as mulheres sobre suas irmãs, ouço muito: “Gostaria que fôssemos mais chegadas”, mas nunca “Gostaria que não fôssemos tão ligadas”. Os comentários também costumam refletir a premissa feminina comum de que a conversa sobre problemas é essencial para a intimidade. Várias mulheres sentem-se profundamente magoadas quando uma irmã mantém em segredo informações pessoais importantes. Enquanto um irmão (ou pai) pode dizer: “Ele nos contou quando estava pronto”, as irmãs (e as mães) geralmente lamentam: “Pensei que éramos mais próximas”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário