sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_3/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.




Autonomia e limites para escolher

Existem condições concretas de vida, como mercado de trabalho, a posição social, o nível de educação formal etc, que impõe limites à liberdade de escolha ocupacional do indivíduo. Mas estes limites não invalidam o princípio da liberdade de escolha do indivíduo. Eles apenas definem a base real, dentro da qual o sujeito irá fazer suas escolhas profissionais Mesmo os limites dessa base real não são rigidamente definidos. Além destes limites concretos, existe uma outra ordem de problemas que recaem sobre o processo de escolha: são as dificuldades pessoais.

Uma vez que as decisões sobre a carreira só podem ser tomadas pelo indivíduo, toda a responsabilidade pelas consequências destas decisões, também pesam sobre ele. Para alguns chega a pesar de tal forma, que a solução encontrada é não tomar decisão alguma. Assim, muitas pessoas procuram “empurrar com a barriga” seu problemas profissionais. Acreditando que não tomando decisões também estariam livres das consequências. Porém, eles se esquecem que não tomar numa decisão importante também significa fazer uma escolha. E isto terá suas consequências.

Se uma pessoa está insatisfeita com seu trabalho atual, por achar que ele não oferece oportunidades e desafios condizentes, ela deveria procurar uma outra alternativa profissional. Mas, como é muito frequente, este pessoa argumenta consigo mesma que o mercado de trabalho está difícil e que no emprego atual ela já está bem integrada, logo decide deixar uma decisão sobre uma provável mudança para “mais tarde”.

Outro exemplo, bastante comum entre adolescentes é do indivíduo que deixa de escolher uma profissão que ele deseja muito, pela qual alimenta uma verdadeira paixão, para se dedicar a uma profissão que é valorizada pelos pais, pelos amigos, ou ainda porque dizem que paga muito bem.

O ponto em comum desses dois exemplos é que, em ambos, as pessoas não tomaram as decisões que lhes caberia, por medo das consequências, insegurança, etc., ou seja, recusaram-se a assumir a autoria das suas escolhas, condenando-se a viver de uma modo inautêntico.

Heidegger, outro filósofo existencialista, afirma que o vier de modo inautêntico leva o homem a agir de acordo com o que dizem que é certo ou errado, obedecendo a ordens e proibições, sem indagar suas origens e motivações. Lê o que todos Lêem, come o que todos comem, segue este ou aquele modismo (profissão?) que dizem mais conveniente. O homem inautêntico torna-se homem-massa, alheia-se a si mesmo.

Este viver inautêntico, em termos profissionais, condena as pessoas a trabalhos sem significado existencial, onde elas nunca encontram paixão, nem conseguem se reconhecer enquanto autores da sua obra, perdendo uma de sua s maiores oportunidades de se desenvolverem enquanto seres humanos.

Além do que, não existe nada pior do que sofrer as consequências de uma decisão que não reconhecemos como nossa. Deixando que os outros escolham por ele, o indivíduo será responsável, ainda que não queira, pelas consequências dessas decisões.

Por estes motivos é que a liberdade da escolha profissional deve ser encarada como um dos problemas mais sérios da vida das pessoas. Importante acrescentar que mesmo pessoas que têm vivido de modo inautêntico podem retomar a autoria da sua existência pessoal e profissional, desde que estejam dispostas a assumir as responsabilidades que este projeto impõe. Muitas vezes, isto só é possível com a ajuda de um profissional terapeuta ou orientador profissional. Eles não tomarão decisões pela pessoa, o que seria repetir a mesma inautenticidade, mas colaboram para tornar o processo mais fácil e consciente, na medida do possível.

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