segunda-feira, 11 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_4/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31


De olho em você

Mas não seria simplista pensar que só agimos de forma altruísta porque queremos retribuir algo? Alguns cientistas supõem que o mecanismo que nos leva a ser generosos em relação às pessoas com as quais não nos relacionamos frequentemente está associado ao ganho de prestígio que essa atitude propicia. Como mostram as estatísticas, as pessoas se beneficiam com a reputação social que constroem: àquele que dá também é dado.

Psicólogos coordenados pela pesquisadora Melissa Bateson, da Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, estudaram esse tema em 2006, recorrendo a um truque simples – colaram a foto de um par de olhos em uma máquina de bebidas automática e contaram o dinheiros que os estudantes jogavam em uma caixa de doações colocada ao lado. E veja só: o valor foi três vezes maior do que entre os estudantes que, no lugar dos olhos, viram imagem de flores. 

Se alguém está olhando, o lado bom do ser humano se mostra mais facilmente.

E quando se trata de uma situação sem paliativos? Será que na luta nua e crua pela sobrevivência não mostramos inevitavelmente nossa face egoísta? Para responder a essa pergunta, cientistas das universidades de Brisbane, na Austrália, e de Zurique pesquisaram em arquivos internacionais de navios. Como os passageiros de cruzeiros se comportam quando o navio está afundando? Resposta: depende muito de quanto demora para o navio afundar! O Titanic desapareceu depois de duas horas nas profundezas do oceano – tempo suficiente para manter as normas altruístas: mulheres e crianças primeiro! Seu um acidente, por outro lado, dura apenas poucos minutos, ocorrem tumultos muito mais frequentemente.

Há algo que parece deixar poucas dúvidas: o egoísmo é humano. À parte problemas de transporte público e descaso das autoridades, isso pode ser observado regularmente nas ruas, onde milhares de pessoas não abem mão de usar o próprio carro, em geral sozinhas, e escolhem toda manhã o caminho mais curto até o trabalho. Resultado: engarrafamento. Se, no entanto, uma tropa de mais de 10 mil formigas tiver de passar por um gargalo, isso não representa um empecilho. O que os animais fazem diferente de nós? Mantém a formação de marcha sem hesitar, o que lhes poupa o “preço da anarquia”, segundo físicos que simulam fluxo de movimento em computadores: quem quer passar à frente do outro acaba demorando mais no final das contas! 

Mesmo quando as formigas estão andando em um grande tumulto, mantém sua meta maior: a coletividade. Talvez tenhamos algo a aprender com esses pequenos seres.

ALTRUÍSMO – capacidade de empenhar-se para o bem-estar alheio sem pensar em um ganho pessoal

EGOÍSMO – motivação de obter um ganho exclusivamente para si, muitas vezes prejudicando outros

EQUIDADE – reconhecimento do princípio de que todas as pessoas têm direitos iguais.

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