quarta-feira, 4 de julho de 2012

Elogio à Timidez_2/7

Por Gláucia Leal, jornalista, psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n° 233, junho/2012


  
O Psiquiatra Suíço Carl Gustav Jung foi o primeiro 
a usar o termo "introvertido" em sua obra Tipos psicológicos, 
de 1921, para descrever este traço de caráter

Deus e Preconceito

Justamente por desenvolver uma relação com o ambiente em que o excesso é interpretado como desprazer, é muito mais provável que um introvertido desfrute uma taça de vinho tranquilamente com um bom amigo, mas encontre dificuldade de permanecer em um grupo de pessoas estranhas ou que falem alto. Susam faz uma distinção importante entre timidez e introversão: a primeira refere-se ao medo do julgamento negativo, enquanto a outra é meramente a preferência por menos estímulo.

Vivemos em um tempo no qual o indivíduo ideal é arrojado, sociável e fica – ou pelo menos deveria ficar – confortável como centro das atenções. Na “era do espetáculo”, nos consultórios de psicólogos e psicanalistas aparecem inúmeras queixas de pacientes que anseiam por ser mais falantes se sentir menos constrangidos ao falar em público ou mesmo se destacar.

No mercado de trabalho, por exemplo, são frequentes as solicitações para que sejam ministradas aulas, apresentadas intervenções comentários e seminários. “É compreensível que a queixa clínica de que no momento de falar em público sobrevenham dificuldades corporais, impedimentos e embaraços tenha se tornado mais rotineira”, ressalta o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e articulista da Mente e Cérebro. “Uma cultura que se organiza sem estrutura de espetáculo cria dificuldades para aqueles a quem a privacidade é essencial. Por exemplo, no quadro clínico chamado mutismo seletivo, crianças e adolescentes – e mais raramente adultos - criam situações nas quais o falar se torna gradualmente prescindível, reduzindo a poucas pessoas próximas”. E a sofisticação tecnológica muitas vezes ajuda a sustentar tais quadros.  

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