quarta-feira, 13 de março de 2013

Hormônios_2/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012


As descobertas sobre a irisina foram divulgadas pelas prestigiosas revistas científicas Nature e Cell. Os estudos conduzidos pelo médico Bruce Spiegelman, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, avaliaram o impacto da irisina em camundongos. Durante três semanas, as praticaram uma hora diária de atividade física sobre rodas (o equivalente a um exercício em esteira ergométrica), em ritmo de caminhada rápida. A partir do 21° dia (da décima semana no calendário humano), os animais produziram irisina em quantidade suficiente para ativar em determinadas células de gordura a termogênese, processo no qual ocorre a produção de calor. Ou seja, o que se mostra aqui é a que a irisina tem o podem de acelerar o metabolismo do tecido adiposo (em até cinquenta vezes) e, portanto, de fazer emagrecer.

De posse dessas informações, os pesquisadores desenvolveram em laboratório a versão sintética do hormônio. O composto foi então injetado em camundongos obesos e sedentários, alimentados à base de uma dieta hipercalórica, rica em gorduras. Ao cabo de dez dias, apesar da inatividade física e do excesso de comida gordurosa, os roedores perderam 2% do peso corporal – o que, entre homens e mulheres, equivale a uma redução de 4 quilos em seis meses. Nenhuma outra substância seja ela hormônio, alimento ou suplemento, é capaz de aumentar nesse grau (e de forma tão rápida) a velocidade de funcionamento do organismo .A As experiências com a irisina em humanos devem começar a partir de 2013. “Confirmados os resultados obtidos com as cobaias, estará deflagrada a maior revolução no tratamento da obesidade desde os tempos da descoberta dos anorexígenos, na década de 40”, diz o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento. Trocando em miúdos, a irisina é a ginástica em cápsula – ou em gotas.

Depois de ser liberada pelas fibras musculares, a irisina chega às células de gordura, onde estimula a produção da enzima UCP1. A célula sofre então uma alteração em sua estrutura química e, em vez de estocar a gordura, passa a queimá-la, sob a forma de calor. As células transformadas pela irisina foram chamadas de células bege, já que, no processo de termogênese, absorvem mais ferro e, por isso , escurecem. A pesquisa publicada na revista Cell mostrou que as células bege possuem, em relação às células adiposas normais (as brancas), uma quantidade cerca de vinte vezes superior de mitocôndrias, as pequenas usinas de energia localizadas no interior dessas estruturas. Normalmente, a maioria dessas miniusinas se mantém desativada, e elas só entram em funcionamento sob a ação de hormônio – liberado pelo exercício físico. Suspenso o estímulo da ginástica, essas mitocôndrias são desativadas e a célula retoma seu comportamento original, de estocar energia na forma de gordura. Até o artigo na revista Cell descrever as células bege, acreditava-se que a irisina agia nas células marrons, encontradas sobretudo em recém-nascidos. Nas primeiras semanas de vida, quase um terço da gordura corporal dos bebês é formada pela gordura marrom, que, sob temperaturas baixas, produzem intenso calor. Em outras palavras, as células marrons fazem o mesmo que as bege, só que sem precisar da irisina. Elas são importantes para a adaptação do recém-nascido à temperatura fora do útero materno. 

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